- Mas quando tudo aperta? Como fica?
- Aperta?
- Quando você, por si só, já não dá conta dos problemas, das frustrações, da ausência, da falta de companheirismo, de cumplicidade, de reciprocidade. De tudo, de quando tudo isso aperta.
sábado, 30 de outubro de 2010
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
A breve história da Ana.
Vê se percebe: acabou. E bem estou, acredite. Repara bem no meu riso: eu estou sorrindo. E não é por você.
segunda-feira, 18 de outubro de 2010
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
A espera (história de tanto tempo).
Quinta-feira. Ou seria quinta-espera, quinta-falta-de-espera, quinta-angústia. Eu e minhas tentativas de quinta. Mas voltando ao ponto do qual parti e não comecei: é quinta-feira. Sendo quinta-feira, só se pode esperar pela sexta-feira. Ele - Ele não espera por sexta-feira -, Ele não espera por nada, nada mesmo, mesmo sabendo que depois será sexta-feira. É difícil, sei eu. Porque nós sempre esperamos. E você se pergunta: esperar o quê? O que vem vindo, meu Deus, que me faz esperar aqui, sentado, eu e os meus cafés, os meus livros, o tango argentino tocando triste ao fundo da sala? Voltemos ao ponto do qual parti, comecei e pouco falei: Ele desacredita sextas, quase desacreditando sábados (talvez espere alguma coisa acontecer no domingo, desacreditando, claro). O clima é de pré-sexta, sabemos. E ele não espera nada por Ela, Sexta-Feira. A Sexta Tentativa de esperar a sexta-feira, Ela que não vem, que não vem, que não vem, quase vindo: mas quase nunca vem. Ela é assim, traiçoeira-vadia-trêfega-perigosa. E Ele, meu Deus, tão pacífico-na-dele-calado-elíptico. Dois opostos. Ele, quinta; Ela, sexta. Mas é essa a história-estória: ele é quinta, ela é sexta. Ela sempre espera. O suficiente para mudar toda a quinta Dele, que nunca espera. Um dia se esbarraram, segunda, terça talvez: Ele começou a esperar. Ela, já esperando, chegou. Trocaram algumas poucas palavras. Sentaram-se no Banco da Espera. Os olhares se cruzaram por um microsegundo: nada mais havia para esperar. E foram felizes esperando amém.
domingo, 10 de outubro de 2010
Carros correm depressa na janela do meu domingo. Por que corre-se tão depressa assim? Aonde se quer chegar? E quase nunca chegamos. Não, não chegamos. Limitamo-nos a correr, simplesmente correr, na doce ilusão de que um dia se chega. Mas não se chega - inventa-se. Mas qual chegada, Deus meu? Logo eu, parado, aqui, escrevendo sem-saber-aonde-chegar. Então invento, invento, invento. Epizeuxe. Invento que escrevo, invento que chego. Se eu escrever, se eu chegar? O que há depois? Tenho medo de descobrir. Nem mesmo quero saber. Nem eu nem os carros que correm tão depressa na janela do meu domingo (é por isso que eles correm). E vou adiando o fim, não quero parar: eu não quero chegar. Deixa a chegada longe de mim. Recuso qualquer indicação-ponto-de-chegada. Prefiro mesmo partir, mas eu quero a partida sem chegada, sem cobranças. Você me entende, sim? Ah, deixe de conversas. Se eu mesmo não me entendo. Sou um mistério de mim mesmo (ou alguma coisa assim que Clarice já escreveu). Uma pausa e continuo. E aonde chegamos? Melhor, onde estávamos? Aonde, onde, que se dane toda a normazinha culta do portuguesinho aonde/onde nós bem sabemos. Quando eu quiser, chego. Chego não de chegar, chego de invenção de chegar - o que normalmente não faz sentido (estou me livrando das vírgulas: não quero mais chegar a separar advérbios, e se são advérbios não estão juntos? então, assim mesmo: sem vírgulas, porque eu quero uma vida sem vírgulas, e não me atire o seu objeto direto, não preciso da sua aprovação, o predicativo é todo meu, meu, assim: m-e-u). A minha sintaxe é louca, desordenada. Descontínua. Ela, como eu, também respira. Ar que invade os pulmões, como o dióxido de carbono também, do correr dos carros da janela do domingo meu. Não quero chegar - chegar - chegar - chegar pro cheguei. Deus, estou chegando, acho. O que é isso senão a linha de chegada. É, é ela. Posso ver sua indicação amarela a cegar-me. Chegando, chegando, gerúndio. Uma buzina rompe o meu silêncio: parece que se chega (uma vez só), assim, como faço agora, chegando. Cheguei.
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