sábado, 24 de dezembro de 2011

Preciso resolver em qual lugar meu coração se sente mais quente. E rápido. Antes que eu me perca lentamente, desconheça o lugar de volta ou que você me escape. Não sei se a escolha faria muita diferença: no fim, estaria sozinho, com o coração nas minhas mãos - potencialmente geladas. Retornaria ao silêncio, o único que me faria companhia quando a palavra fosse pronunciada. Porque infelizmente não estamos fadados ao sempre. Não me espanto se tudo se derreter nesta vida.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Dos ínfimos desejos.

Quero pouca coisa: um mão que afague e uma boca que me cite Grande Sertão: Veredas.

sábado, 27 de agosto de 2011

Eu quero uma noite em Liverpool. Sentir o farfalhar da grama verde fria na minha mão, que sorrateiramente vai pedir a tua. Sem narrativas prolongadas, com pouca objeção, espero que você atenda ao meu pedido.

sábado, 20 de agosto de 2011

Sem pressa

O morango mofou: tudo tende à realidade.

sábado, 6 de agosto de 2011

"I keep dancing on my own", ele disse. O salão vazio, os passos dos outros que ainda ecoavam em seu pensamento, a música que relembrava momentos nunca vividos, aquela dor de não-se-sabe-o-quê. A decoração, tudo coisa de muito bom gosto. O traje refinado, as cordialidades, "estou indo bem". Indo bem. "Indo bem por esse caminho que não se sabe o destino", eu falei. Não trocamos mais palavras, eu não disse um isso. As cadeiras metalizadas vazias. Na verdade, eu e elas. Elas que, meu Deus, ainda valem alguma coisa: conforto, disponibilidade, amparo. As Cadeiras e suas danças. Balões cor-de-rosa, prata e dourado e resto de um champagne recentemente aberto. Comemorações das quais nunca participei. Canapés preparados com delicadeza, nunca me serviram. Eu continuava sozinho, andando pelo salão, rindo da hipocrosia que era aquele baile da turma de 91. Nada mais do que uma tentativa de exibição. Do meu fracasso. Subi ao palco e anunciei:

- Obrigado pela presença inútil de vocês. Bando de filhos-da-puta.

O grande hall decorado com muito zelo e frescura. As faixas de boas-vindas. As letras pacientemente pintadas em um dourado azedo. Não havia notado a sua presença, mas lá estava. Também só, também meio bêbado. De longe, imaginei sua boca dizendo alguma coisa que não pude decifrar. Mas como era belo o seu desenho. Como ficava bem naquela roupa que só me apertava e ratificava - mais uma vez - que eu não deveria estar a li. Dei de ombros. Fingi que a música tocava e que eu ouvia. Dancei sozinho. Aproximava-se devagar. "Eu também estou dançando por mim mesmo", ele disse.

sábado, 16 de julho de 2011

Turn on the lights, baby, eu disse. Turn on the lights. E me ame, eu disse também.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Não me diga que parou aqui por acaso.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Por amar o espelho

Lembrou-se de anotar à margem:

Morreu.
Motivou: amou demais.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Keep trying. Again.

É tempo de seguir o caminho, o mesmo caminho já tão conhecido, tão trilhado. Faz pouco tempo, vestígios dos meus passos ainda descansam por lá. Dessa vez, caminha-se sozinho, sem companhia, sem esperar mão que oferece ajuda ou abrigo. Rezar mudamente, não em tom de súplica, mas em monólogo interior, secreto e só meu. A gente anda assim, sempre tão só. Não vai ser diferente, essa vez - nessa vez, dessa vez. Eu e as minhas feridas quase cicatrizadas (bem sei o destino dessas). Corte na derme, estigma que ninguém vê (alguns poucos sabem; na verdade, só Ela). Me faltam ainda alguns metros. Tem gente que faz a caminhada valer a pena - apesar das pedras. (Estou, ao meu modo, parafraseando Drummond.)

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Desisto: só tenho dezoito anos.
Falo até quando quero estar em silêncio. Silencio de maneira reversa. Que o leitor não se engane: o que aqui lê não passa de grande silêncio, rocha dura e quieta.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Vejo todo mundo sucumbir. Acho que vou sucumbir também. Usar a desculpa "está sendo como deveria ser" talvez tenha lá a sua razão de ser. Os outros estão no mesmo barco, o que me impede o embarque? Há sempre um barco, a questão é: estar dentro ou fora dele. Mas depois do barco tem a margem. E é lá que eles estão - eles, os privilegiados. Eles: quem eu gostaria de ser. Eles, água e sombra fresca. Eu num barco, afundando, a ver navios.

domingo, 27 de março de 2011

Quando existe reciprocidade, quando existe o mesmo interesse, quando existe o mesmo desejo: quando tudo não passa de um sonho.

quarta-feira, 23 de março de 2011

O remetente

Me perguntaram se era paixão. Respondi, vai saber, de forma madura e sensata - por mais que lá no fundo eu bem saiba que maturidade e sensatez nunca me serviram pra nada. Eu disse que era feito de deixar levar. Concordaram, disseram que era melhor assim. Sem margens pra qualquer expectativa que dê espaço às pequenas (e dolorosas) ilusões, nada que me remeta ao escorrer do sangue frio da tua potencial - vai saber? - indiferença. Mas talvez, e somente, exista algum espaço pra nós dois. Talvez, e apenas, iremos estabelecer algum grau de contato que vai para além das nossas despedidas melodramáticas: todo aquele jogo que nos ronda. Vou escrevendo assim, ao corer dos meus dedos, à livre inspiração - que poderia ser você, mas penso em nós. Sim, totalmente sob a ótica do romantismo. Idealização. Aliás, é o que me resta. Ontem eu percorri teus espaços, trilhei teus caminhos, estava no teu hábitat, e ainda lembrei da minha primeira explosão. Faíscas laranjas, perfume cítrico, tua blusa branca, teu jeans, tua cegueira, teu estrabismo, o teu cuidado, o teu sorriso, o teu conforto. O meu desejo. Uma coisa, porém, me fere: naquele dia, eu não fui o teu destinatário. Não é a mim que você escreve.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Temporariamente sem paciência pra qualquer tipo de esperança.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Mais um sábado chuvoso, sem cafés, sem músicas, sem leituras, com muita ausência, com muita falta, um grande silêncio. Mais um dia sem você. Assim, ausência de conexão física: sei que o cosmos, de alguma forma, nos liga. Você também sente? Talvez pelo simples de fato da proximidade que uni nossas casas, nossos caminhos, talvez pelo desejo implícito que ronda nossas palavras: eu quero você. Era um dia qualquer aí, sem muita novidade. Eu e meu jeans de sempre, aquela camisa azulada. Coloquei a melhor roupa, não sei se usei o melhor perfume, mas nos encontramos. Estrelas em choque, faíscas vermelhas. Isso começa a não fazer sentido, acho que vou parar.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Keep trying

Olha, tô indo embora. Não, não vou ficar muito distante: preciso mesmo de um tempo só. Só meu. Não sei se deixo recado na porta. Você me procuraria? Bata, bata aí. Não sei se atendo. Tenho café - chá, se preferir - bons livros, boa música, uma poltrona macia (gosta de perfume na casa?). Só me falta presença, meu bem. Por favor, sem cobranças. É que eu tô precisando ficar ausente, costurar minhas feridas pacientemente. Sou forte, tu me conhece. Não quero que me veja sofrendo. Eu sempre dou a volta por cima, não importa, tu me conhece, tu sabe. Tô saindo. Fechando a porta silenciosamente. Passos miúdos, coração apertado, devagarinho. Sem beijos, sem despedidas. É tudo uma questão: de continuar.

Deixo meus passos em terra molhada. Siga, caso queira.
Sinto que partilhamos da mesma subjetividade.