domingo, 16 de maio de 2010

Agridoce vermelho.

Eu acho que já tá mais que na hora de costurar essa ferida. Vou me valer daquele restante de linha, segurarei forte a agulha que me resta e, breve, toda a ferida estará sanada. Fincarei a agulha e sua linha com esmero na minha derme, quero ter certeza que ela não surja novamente, que não haja mais possibilidade para cortes futuros. E é assim que vai ser. Eu mesmo vou costurá-la. Sei que vai sangrar por um tempo, mas é preciso dor na carne para "forçar a cicatrização". Que sangre todo dia, o dia todo. No fim, quando tudo estiver no seu lugar, quando a ferida não ferida mais for, irei olhar pra trás e vou querer fechar a porta também, assim como Ela fez. As noites tom de sépia acabarão. Só me restará aquele azul comestível. Todo dia. Vou voltar por aqui, mas só quando tudo isso acontecer. E que sangre. E que seja doce.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Trouxe a chave?

Decidi. Hoje eu não penso mais em você e, se tudo der certo, esse pensamento também vale para amanhã. Cansei de ver você nos olhos: não é a mim que eles procuram. Quer saber? Quando você cruzou aquela porta hoje, meus olhos não foram ao encontro dos seus. Livre. Eu estava livre. Não de você, claro. Afinal, você nunca me pertenceu. Livre daquele sentimento que encerra um "quero você comigo" no final. Sinto-me leve, limpo, como quem toma banho de chuva em um domingo ensolarado e azul (aquele azul comestível). E que seja assim agora: não penso mais em você. Não pretendo fazer disso uma regra. Cedo ou tarde, esse sentimento me revisitará e, quem sabe, talvez a porta possa estar aberta. Mas, mesmo assim, bata. Não se acovarde. Tome uma atitude pelo menos uma vez. Só não garanto se, quando chegar, ainda estarei pensando em você.

A porta está aberta. O que não quer dizer que eu faço questão da sua presença.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Você era tudo que eu mais queria ler agora.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Uns olhos.

Ela se aproximou daquele jeito típico, daquele jeito de cravar aqueles seus olhos cor-de-canela nos meus - olhos que tanto dizem sem nada dizer. Contemplou-me por alguns segundos. Breve segundos. Ao certo, nem sei se Ela realmente me olhou. Mas vá; não importa. Estendeu-me a mão. Abrindo um sorriso acanhado, entregou-me a Carta. Envelhecida, de fina espessura, com uma escrita fácil de perceber o esmero gastado e o tempo que guardada ficou. Não me pediu nada em troca, apenas me entregou.

- Por que você chora assim?
- Porque é noite, e nela eu fico mais pessimista.
- Que bom que já já o sol vai nascer.

E partiu, sem pedir nada em troca. Apenas me entregou. Apenas me entregou a palavra que eu precisava naquela noite. Espero encontrá-la, espero que aqueles olhos, que tanto dizem sem nada dizer, possam encontrar os meus. Mais uma vez.

domingo, 2 de maio de 2010

Caminho sem volta.

- Por que você não chega mais perto?

(Porque eu posso me perder. Porque, talvez, eu não encontre o caminho de volta. O caminho que eu conhecia antes de você chegar e me fazer perder em você. E, antes tudo, porque, quando eu sentir aquela coisa, eu não sei se vou segurar a sua mão.)

- Ah... boa pergunta. (Faz tempo que eu venho me perguntando o mesmo.)

sábado, 1 de maio de 2010

Debaixo do meu cobertor.


Sabe, eu até tenho muita coisa pra contar (mesmo que não seja ouvida). E, ultimamente, você é uma dessas coisas que eu ando tentando não contar, não contar a mim mesmo. Costumo dizer que “não vou mais falar sobre esse assunto”. Engano meu. Posso até não falar, mas não adianta. Não falo, penso. Sei que penso. E penso. Sei que penso o dia todo, todo o dia. Às vezes, até penso que você também pensa em mim. Não penso, sonho. Sigo sonhando. Mais cedo ou mais tarde, talvez você vá me acordar: “ei, é sonho”. Ou talvez, só talvez, você vá se juntar a mim, debaixo do meu cobertor.